DIAGNÓSTICO CLÍNICO
A digitopressão sobre a pele, sob luz natural permite a classificação da icterícia nas zonas de Kramer (zonas dérmicas).
Em RNs maiores de 30 semanas, a avaliação de bilirrubina transcutânea (BTc) pode ser utilizada apresentando resultados confiáveis, independente da cor da pele, idade gestacional, idade pós-natal e peso do RN. Ela poderá ser usada como método de triagem na identificação do RN de risco, mas a extrapolação dos seus resultados para a bilirrubina sérica deve ser realizada com cautela, devendo sempre se realizar coleta sérica quando os níveis de BTc excederem o valor de 8.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
ICTERÍCIA FISIOLÓGICA
Ocorre por alguns mecanismos:
- aumento do volume eritrócitos/kg e menor tempo de sobrevida dos eritrócitos (90x120 dias) comparado com adulto;
- maior eritropoiese inefetiva;
- aumento da circulação enterohepática;
- menor captação da bilirrubina plasmática;
- menor conjugação da bilirrubina indireta (BI);
- redução na excreção hepática de bilirrubina.
ICTERÍCIA PATOLÓGICA
Pode ser confundida com a fisiológica, porém algumas situações sugerem o diagnóstico de icterícia patológica:
- icterícia precoce, antes de 24h de vida;
- associação com outros sinais clínicos ou doenças do RN como anemia, plaquetopenia, letargia, perda de peso etc.;
- icterícia prolongada (>8 dias no a termo e acima de 14 dias no pré-termo);
- bilirrubina direta > 1,5mg/dl ou >10% da BT;
- progressão diária da BT >5mg/dl ou >0,5mg/dl/h.
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
- bilirrubina total e frações
- grupo sanguíneo, Rh e triagem de anticorpos maternos - realizados durante pré-natal
- esfregaço de sangue periférico, com análise da morfologia eritrocitária e contagem de reticulócitos – detecção de doença hemolítica com Coombs negativo (por ex. esferocitose)
- hematócrito - pode detectar policitemia ou anemia
- painel de anticorpos nos eritrócitos do RN (se Coombs direto positivo)
- dosagem de G6PD
- na icterícia prolongada pesquisar doenças hepáticas, infecção congênita, sepse, hipotireoidismo ou defeito metabólico;
- se colestase presente, outros sinais poderão estar associados como acolia fecal e colúria
- nessas situações outros exames laboratoriais e de imagem deverão ser solicitados.
TRATAMENTO
A hiperbilirrubinemia indireta pode ser tratada pelo aumento da excreção – fototerapia – ou pela retirada mecânica – exsanguinotransfusão.
FOTOTERAPIA
- Baseia-se no fato que quando a bilirrubina absorve a luz ocorrem 3 reações fotoquímicas: fotoisomerização, isomerização estrutural e fotoxidação, levando a um aumento da excreção.
- No entanto, a fototerapia tem sua eficácia influenciada por alguns fatores:
- tipo de luz: lâmpadas azuis especiais são as mais eficientes;
- dose de irradiância – deve ultrapassar 5microW/cm2/nm a 425 a 475 nM;
- RN deverá permanecer despido, exceto por proteção ocular, para maior exposição cutânea;
- distância entra a fonte iluminadora e o paciente – aparelhos convencionais devem ser posicionados a 30 cm do paciente.
- Indicações de fototerapia
De acordo com a Academia Americana de Pediatria, para RNs a termo ou pré-termo tardios (>35semanas) saudáveis, a indicação se baseia na dosagem da BT sérica e sua plotação no normograma específico criado por Bhutani.
- Faz remoção mecânica (parcial) de anticorpos, eritrócitos e bilirrubina do plasma.
- Indicações:
COMO MONITORAR OS NÍVEIS DE BILIRRUBINA
- Clinicamente pela avaliação da coloração da mucosa oral e esclerótica – lembrando-se que após início da fototerapia a avaliação pela digitopressão e da BTc são prejudicadas.
- Laboratorialmente, pelos níveis de hematócrito e bilirrubina colhidos com a seguinte frequência:
- * RN de mãe Rh negativo com Coombs indireto positivo: colher a cada 4 ou 6 horas, mesmo se os resultados dos exames iniciais de sangue de cordão não indicarem fototerapia ou exsanguinotransfusão, para cálculo de velocidade de aumento da BT em mg/dl/h. Manter o RN em fototerapia profilaticamente.
- o nível sérico inicial de bilirrubina na zona de fototerapia pelos gráficos convencionais, sem uspeita de doença hemolítica, colher exames após 12 ou 24 horas após início de fototerapia.
- o nível sérico inicial de bilirrubina próximo ao nível que indica exsanguinotransfusão ou se houver anemia, colher exames a cada 4 ou 6 horas.
- o RN submetido à exsanguinotransfusão, colher exames a cada 4 a 6 horas, após o término do procedimento, para cálculo da velocidade de aumento de BT em mg/dl/h.
QUANDO SUSPENDER TRATAMENTO
- Quando BT sair da zona de tratamento pelos gráficos.
- Nesses casos, nova dosagem deverá ser feita 12 a 24 horas após a suspensão da fototerapia, a chamada bilirrubina rebote, que deverá permanecer fora dos níveis que indiquem o tratamento. E idealmente, não devem ser maiores do que 1 a 2mg/dl dos níveis de quando terminada a fototerapia.
ACOMPANHAMENTO PÓS-ALTA HOSPITALAR
- Os pacientes com maior risco de evoluírem com anemia importante, encefalopatia crônica ou surdez devem ser encaminhados para acompanhamento especializado. São eles:
- RNs com diagnóstico de doença hemolítica perinatal;
- RNs submetidos à exsanguinotransfusão e
- RNs que apresentaram níveis séricos de BT próximos ou superiores a 20mg/dl.
LEMBRETE
A principal causa de icterícia patológica e de doença hemolítica neonatal é a incompatibilidade sanguínea
materno-fetal, que cursará com redução de hematócrito, aumento dos níveis séricos de BT e reticulócitos
>5%.
Créditos: Rotinas Assistenciais da Maternidade-Escola da UFRJ
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